terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

POEMA INTEMPORAL

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Fotografia / Sentidamente

CANÇÃO DA PRIMAVERA
(Ou poema intemporal)

Há flores, por todo o jardim, cheirando.
Há crianças de bata branca, sorrindo.
Há andorinhas negras, de paz, voando.
Há velhos estendidos ao sol, dormindo.
Há as cegonhas do parque brincando.
Há por todo o lado árvores florindo.

As mulheres do monte voltam cantando.
Enquanto os mais jovens passeiam rindo.

Há beleza por todo o recanto.
E há velas brancas, nos barcos lá no porto...
Mas não há só Primavera e encanto...

Há lá longe um soldado morto!
Aqui, há uma mãe banhada em pranto.
E as flores que levaria no caixão,
Vão à Virgem enfeitar o manto,
Contributo para uma oração.
Lá longe, o soldado continua morto.
Talvez sem sepultura, talvez sem caixão…
A seu lado, como último companheiro,
Talvez um cardo espezinhado,
Pelo seu passo derradeiro.

Jesus Varela

17/04/64

4 comentários:

  1. limito-me a viver este teu poema, muito grande no dizer, e onde conjugas a beleza de tudo que rejuvenesce, dando brilho á cor do dito cardo que eleva, no teu sentir, esta dedicada homenagem, não menos bonita, a alguém que o espezinhou, desconhecendo que seria o seu derradeiro passo.

    a elegância da tua sensibilidade.

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  2. Minha querida

    Não tenho mesmo palavras para comentar este poema...tanta beleza na tristeza das palavras...muito belo.

    Beijinho com carinho
    Sonhadora

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  3. Lá longe, em casa, há a prece:
    “Que volte cedo, e bem!”
    (Malhas que o Império tece!)
    Jaz morto e apodrece
    O menino da sua mãe

    Fernando Pessoa

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  4. MQ é em Homenagem a tempos tão ferozes, que quero ver no teu ramo branco a luminosidade da PAZ que todos os domingos procuro ao sufocar o pranto que se afugenta na andorinha negra que me habita.Bj

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