terça-feira, 25 de janeiro de 2011

EM PAUSA... DE MIM

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Fotografia / Sentidamente

POEMA DE NADA

Este nada a crescer… sempre a crescer…
aonde tudo é só;
esta cinza na teia das ideias
de palavras com pó;
estas letras que falam do vazio,
o buraco obscuro, o infinito,
a solidão que ri, só porque rio
e que sinto chorar quando medito;
as horas aonde conto as minhas horas
com o engenho que o destino tece
e quase me enlouquece se demoras
e o silêncio aquece!
Este nada a crescer… sempre a crescer…
pelas sombras com fendas,
e tudo se verte, sem querer,
sem que ninguém atenda;
esta rouquidão onde me canto
com sílabas de ofensa…
folhas de acanto, amortalhando o pranto
quando o poema pensa;
esta ternura que a saudade entorna
neste sem fim de azul e madrugada
e vejo recompor-se a tua forma
com pedaços de nada.

Ulisses Duarte
(Palavras com Distância)


Com o meu agradecimento à querida amiga ZÉ, por me ter dado a conhecer este GRANDE POETA.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

PRESENÇAS

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Fotografia/Sentidamente

LENTA DERROCADA


O Tempo parou, na casa caída.

Mas foi o mesmo tempo

quem sarou a ferida…


Resvalante grão de pó.

Subtil, invisível e constante

no abrupto declive intemporal.


Desagregam-se pedras, areia e cal.

Morte lenta da velha estrutura.

Condenação ao esquecimento sepulcral.


Pouco vai sobrando. Tudo abandonado!

Um dia, casa dos afectos, meu abrigo.

Cais ausente. É agora barco naufragado,

desfeito porto seguro, perdido amigo!

.

A dor aguda das faltas muito amadas
foi-se diluindo no amargo das lágrimas,

de tão velhas, hoje já não choradas…


Quando o dedo calca volta a doer.

Mas uma dor longínqua, não gritante…


Ouço o murmurado silêncio a desfazer

a querida casa minha, tão distante!


Jesus Varela


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

DE MIM... PARA MIM.

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Fotografia/Sentidamente

À BEIRA RIO

A brisa sorri ao Sol e agita na sombra,
a ausência do meu rosto,
longe! Tão longe de mim…

Num pairar sereno de gaivota,
a única promessa longínqua de vida!

Chap!... Chap!... entre espumas,
murmuram as águas do rio,
num monologar lento e frio!
A distância é só um passo,
com as grades de permeio…

Vida ou morte…
Qual receio?

Jesus Varela