quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

AS MINHAS DUNAS




                                                      Fotografias/Sentidamente



Dunas são documentos temporais,
Paragem dormitando solidão,
Redutos, sobras de tempo por demais,
Incerta firmeza a deslizar no chão.
Modeladas por vento escultor,
Esperam ondulantes formas fugidias.
Paleta vai cedendo à sombra cor,
Em tons pastel, com cheiro a maresias.

Afundam-se múltiplas vozes naturais,
Ensurdecer de coros abafados pelo mar,
No rugir das ondas saltando temporais,
Ou orquestrado em constante marulhar.
Cai sobre o imenso azul sem fundo,
Colcha serena rendada nos rochedos,
Tão longe do escuro moribundo
Povoado com adamastores e medos.
Rivalizam falésias, interdição ao areal,
Obstáculo ou convite ao salto demente
Abismos nascendo da luz matinal.

Ao grasnar duma gaivota, acorda o presente!
Finco os pés e faço caminho
Duna após duna, paralelamente…
Peço à vida um pouco mais de vinho.
De embriaguez levo a estrada cheia,
Ignota encruzilhada de todas as vias!
Indomável, o tempo feito areia
Desliza-me célere por entre os dias.                       

Agosto de 2012 / Jesus Varela

domingo, 24 de novembro de 2013

DISTÂNCIA




 fotografia / Sentidamente
  
Longe vai o encanto desse dia!
Tuas feições perdi nas brumas,
arrumadas em espaço estranho…
Então, fogoso sol refulgia,
ventos verdes saudavam plumas
e os dias passavam sem tamanho…

Foi tua chegada ao meu recanto,
viragem no momento preciso,
fim e início, tudo a começar…
Ofuscando-me em brilho de encanto,
trazias estrelas penduradas no sorriso
e olhavas esperanças de luar.

Tempo em que o tempo não fugia,
era inútil tentar agarrá-lo.
Gostosamente deixei-me arrastar…
Sem turbulência o rio corria
em remansoso e terno embalo
na senda de desejado mar…

Mas… nada existe perfeito.
Bom e mau exigem sua quota.
Turva-se o céu em nuvem de fumo,
tenebrosos seixos interditam o leito.
Por mau navegar incerta é a rota
e cada qual divergiu no rumo.

No mar dos afectos somos duas ilhas.
Derivando do rio, margens separadas
varridas por ventos de desencanto…
Ignorando que caminhos trilhas,
Súmula guardada de tantas imagens,
Petrifiquei-te em folhas de acanto.
Jesus Varela

quinta-feira, 20 de junho de 2013

INSTANTÂNEO




Fotografia / Sentidamente 

Gastos foram os dias
na esfera do tempo.
Perderam-se enganos
nas asas do vento…

E as pedras da rua
lavadas na chuva,
espelham memórias
na lembrança turva.

Passo sobre outro dado
não imprime novo alento
ao rasto meio apagado…

Único é cada momento.

Jesus Varela

sexta-feira, 3 de maio de 2013

NINGUÉM ME LEMBRARÁ




Fotografia/ Sentidamente


O edifício que construí
não cresceu, ruiu total.
Incultivei jardins de amores
onde só arranquei ervas daninhas.
Não legarei telas coloridas
por emoções que vivi.
Em  palcos, se os pisei
não deixei rasto.
As palavras escritas se ficarem,
vêm de lamentos íntimos
pouco importantes ao comum.

quando, os ventos rasgarem folhas soltas
e a chuva, colaborante com a terra,
tornar horas em húmus,
ao longo dos dias sem fim,
o tempo acontecerá
noutra dimensão para lá de mim
e ninguém me lembrará.

Jesus Varela