quarta-feira, 29 de abril de 2009

AS CRIANÇAS E A GUERRA

Fotogtafia / Sentidamente

Ouvimos o troar dos canhões, quase “romanticamente”, em directo, através de coberturas televisivas. Será que imaginamos o que realmente se passa? O que é a guerra para quem a vive? Deixo aqui a referência a um desses testemunhos que há pouco li e que recomendo.

UMA LONGA CAMINHADA
Memórias de um menino soldado
De Ishmael Beah

“ Os meus amigos da escola secundária, em Nova Iorque, começaram a desconfiar que eu não lhes contara a história completa da minha vida.
_ Porque saíste da Serra Leoa?
_ Porque lá há guerra.
_ Viste alguns dos confrontos?
_ Toda a Gente no país viu.
_ Quer dizer que viste pessoas a correr com armas na mão e a dispararem umas contra as outras?
_ Sim, várias vezes.
_ Fixe.
Esbocei um pequeno sorriso.
_ Um dia destes hás-de contar-nos isso.
_ Sim, um dia destes.”

Ishmael Beah
Nasceu na Serra Leoa em 1980. Mudou-se para os Estados Unidos em 1998, e concluiu os dois últimos anos do secundário na Escola Internacional das Nações Unidas em Nova Yorque. Em 2004 formou-se Pelo Oberlin College com um bacharelato em Ciências Políticas.

É membro do Human Rights Watch Children’s Rights Division Advisory Committee e falou perante as Nações Unidas, o Council on Foreign Relations e o Center for Emerging Threats and Opportunities (CETO), no Marine Corps Warfghting Laboratory. Os seus trabalhos foram publicados pela VespertinePress e pela revista LIT. Vive em Nova Yorque.

(retirado do livro)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

A PROPÓSITO DE LIBERDADE

fotografia / Sentidamente

Hino à Liberdade

Eu vi a ave voando!
Eu vi o rio correndo!
Eu vi o Homem passar!
Meus olhos, tristes chorando.
Minhas esperanças morrendo.
E eu presa neste lugar…

Um dia, em decidir grave,
Cortei amarras a frio.
Enquanto os cárceres dormem:
Agarro a sombra da ave,
Sigo o curso do rio,
Piso o rasto do Homem…

E bêbeda de liberdade,
Danço a dança da vida,
Entre crenças e louvores.
Com os guizos da verdade,
Sempre em crescente subida,
Dando sonoridade às cores.

Liberto os sonhos guardados,
No tédio dos dias vagos,
Afundados em masmorra.
Sem os risos abafados,
Gargalho altos aos oragos,
Para que a alegria não morra.

Pedi ajuda às estrelas,
E nas franjas da sua luz,
Pendurei velhas lembranças.
Nas madrugadas mais belas,
Cuidadamente dispus,
Uma floresta de esperanças.

Bem longe p’ras não lembrar,
Enviei lágrimas choradas
E as que não tinha chorado.
Foi uma nuvem ao passar,
Que mas levou embrulhadas,
Em algodão branqueado.

Se ouvir soar o trovão,
Se o rio passar a sangrar,
Ou se guerras for sentindo.
Parte-se-me o coração!
Mas só quero acreditar,
Que a liberdade vem vindo.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

PELAS RUAS DE LISBOA…

Fotografia / Sentidamente

Na década de sessenta, deslocava-me frequentemente de eléctrico e autocarro. Então, quantas vidas desfilaram por mim e comigo, às mesmas horas, numa não relação quotidiana!

Através dos pedaços de conversas, reconstituía vivências, emocionava-me com as dores que outros sofriam, num lugar talvez perto, mas completamente desconhecido. Cruzei-me com pares de namorados, mais tarde casados e depois com filhos ao colo. Passei anos, sentindo-me próxima e distante daquela gente.

Multiplicando esses arroubos de imaginação, pelo número de passageiros, maravilhava-me com a quantidade de pensamentos que fluindo no tempo, povoavam aqueles espaços móveis…

Foi por essa altura que conheci o livro de JOSÉ GOMES FERREIRA, POESIA - III e um capítulo chamado Eléctrico (1943, 1944, 1945). Imaginei-o a fazer apontamentos, enquanto viajava e percebi que só alguns, têm a capacidade de eternizar no tempo, a magia de fugazes momentos…

São desse capítulo os poemas que aqui deixo, dedicando a postagem de hoje, à minha amiga CAROLINA PALMINHA.

IV

(Não há espelho público em que eu não me mire,
sempre á espera de encontrar outra cara)

De repente,
no espelho da plataforma da frente
surgiu o clarão instantâneo
da minha face
a tentar gelar a realidade
_ para além da bruma das cicatrizes

Pobre pele esticada de disfarce
a dar uma aparência de unidade
a este enredo subterrâneo
de luas com raízes!


XVIII

(Todos os dias passo pelas Amoreiras)

Há lá renda que se assemelhe
a este tecido de árvores no Ar…
(Hei-de pedir à Maria Keil
para as pintar.)

Árvores do Jardim do Aqueduto
sem flor nem fruto,
nem nada de seu…

Só este azul de pássaros a cantar
que vai da terra ao céu.

XIX

(Nunca mais tornarei a ver esta minha
vizinha de eléctrico.)

Vem hoje um cheiro tão bom lá de fora do mundo!
Um cheiro a esponsais de Primavera
com deusas de astros na fronte
e enlaces de folhas de hera
no cabelo voado…

(Ah! Se eu encontrasse a ponte
que vai para o outro lado!)

XX

(Canção daquela borboleta verde que vi,
há momentos, aturdida num passeio de
Campolide.)

Borboleta verde,
aqui não há flores.
- Procuras nas pedras
Jardins interiores?

Borboleta verde,
aqui não há zumbidos.
- Procuras nas pedras
perfumes dormidos?

Borboleta verde,
aqui só há calçadas.
- Procuras nas pedras
As flores geladas?

Borboleta verde,
Chama quase morta.
- Também eu, também,
aos tombos nas pedras,
não encontro a Porta.
José Gomes Ferreira

segunda-feira, 13 de abril de 2009

CAMINHOS

Fotogrfia / sentidamente

Porque caminho

Por vezes caminho, porque “caminhar é preciso”!

Por vezes caminho, porque lá longe,
há uma luz que necessito alcançar!

Por vezes caminho, para encontrar
a certeza, de que a caminhada não é destino!

Por vezes caminho num desatino
de encruzilhadas e túneis, à procura da minha direcção!

Por vezes paro de caminhar,
para retemperar forças, visando recomeçar!

Hoje, sinto-me a caminhar por hábito,
como autómato, que não sabe parar, nem voltar atrás!

domingo, 5 de abril de 2009

A NOITE

Fotografia / Sentidamente - (amanhecer em Belém)

SORTILÉGIO DA NOITE

A noite vem silenciosa...
A noite vem misteriosa...

Há na água, um reflexo de poesia,
Com brilho de prata e cor de fantasia.

Há nos rostos, uma expressão indefinida,
De anseios escondidos em espera sofrida.

E ao que era interdito à luz do dia,
A escuridão da noite, dá toda a primazia.

Os lábios semi cerrados, sem um grito,
Deixam escapar um desejo de infinito.

As mãos, em gestos largos, que a lua ilumina,
Cedem ao ímpeto acariciante que as domina.

As palavras não se ouvem. Caladas, tão belas!
… Persiste um silêncio que fala por elas.

Os corpos unem-se. As luzes, no molhado do asfalto,
Reflectem uma só sombra, de dois tons, ao alto.

Aquecem os corações, ao lume do amor.
Os rostos ficam mais humanos, imunes à dor.

Do lado do mar, levantam-se brumas escondidas.
As árvores, deixam cair das folhas, lágrimas sentidas.

Quando o dia chega, quebra-se o encanto, surge o real.
O que pareceu sublime, esfumou-se na noite. Ficou banal.

04/01/66

quarta-feira, 1 de abril de 2009

RENOVAÇÃO

Fotofrafia / sentidamente

Recado a um Náufrago

Olha à tua volta e repara:
O sol ainda brilha!
O céu continua azul!
Há nuvens, sim!
Mas não permanecem.
Vão e vêm ao sabor
do estado do tempo…

A Primavera, não se esquece,
de chegar na hora certa.
Os rebentos soltam-se, naquela data.
As flores abrem as suas pétalas,
quando sabem que chegou a hora.
No reino animal também!
Tudo funciona como um relógio!
Com o ritmo e a pontualidade
necessários…

Os acidentes, não passam de acidentes!
A corrente do tempo é mais forte
e continua sempre, no seu trilho!

Não te interrogues!
Não te amargures!
Não peças contas à vida!
Sê natural…
Vive simplesmente!
Desfruta, o que tens ainda,
apesar do que perdeste,
apesar do que desejarias ter!...

Desfralda a vela que resta no teu barco.
continua a viagem,
porque não haverá outra!

Vive! Vive! Vive!