quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

AS MINHAS DUNAS




                                                      Fotografias/Sentidamente



Dunas são documentos temporais,
Paragem dormitando solidão,
Redutos, sobras de tempo por demais,
Incerta firmeza a deslizar no chão.
Modeladas por vento escultor,
Esperam ondulantes formas fugidias.
Paleta vai cedendo à sombra cor,
Em tons pastel, com cheiro a maresias.

Afundam-se múltiplas vozes naturais,
Ensurdecer de coros abafados pelo mar,
No rugir das ondas saltando temporais,
Ou orquestrado em constante marulhar.
Cai sobre o imenso azul sem fundo,
Colcha serena rendada nos rochedos,
Tão longe do escuro moribundo
Povoado com adamastores e medos.
Rivalizam falésias, interdição ao areal,
Obstáculo ou convite ao salto demente
Abismos nascendo da luz matinal.

Ao grasnar duma gaivota, acorda o presente!
Finco os pés e faço caminho
Duna após duna, paralelamente…
Peço à vida um pouco mais de vinho.
De embriaguez levo a estrada cheia,
Ignota encruzilhada de todas as vias!
Indomável, o tempo feito areia
Desliza-me célere por entre os dias.                       

Agosto de 2012 / Jesus Varela