terça-feira, 25 de dezembro de 2012

A todos os que não têm Natal

Fotografia / Sentidamente

POEMA DE NATAL

Que triste este Natal!
Numa casa gelada e nua,
Onde o silêncio se quebra
Com os sons vindos da rua.

Que frio este Natal!
Sem lume a crepitar.
Tão longe das lareiras
E tão perto do gelar.

Que escuro este Natal!
Sem luzes e sem velas.
Sem embrulhos coloridos.
Sem enfeites nas janelas.

Que vazio este Natal!
Sem risos das crianças.
Sem vozes dos adultos.
Sem alegrias e esperanças.

 Dezembro 2007
Jesus Varela

quinta-feira, 15 de novembro de 2012



Fotografia / Sentidamente


LIÇÃO
Esperei-te todo o dia. Não vieste!
Confundi-te com sombras de distância.
Doirada fantasia ainda veste
Sonho velho, urdido pós infância.
Em esperança perscrutei o horizonte.
Ceguei claridades de não ver.
Bebi águas em nenhuma fonte.
Distraí claro e escuro acontecer.
Fincando pés em distâncias não andadas
Sonhei rios por secos leitos.
Confundi amarelo sorrir com gargalhadas.
Em lavra de sonhos plantei amores perfeitos.
Cansada dessa espera em vão,
De abandono passo alerta.
Futuro e passado, ainda e já não são.
Só o presente é verdade certa.

Jesus Varela

terça-feira, 30 de outubro de 2012

GRITO: REVOLUÇÃO



Fotografia / Sentidamente

Paro no dia dos silêncios,
das indesejáveis ausências,
das negadas sensações e emoções…

Em vislumbre vindo de lonjuras:
finitude a dias perdidos,
inutilidade de ais e gemidos,
construção interrompida,
lugar naturalmente cedido…

Repouso mãos inertes mas sensíveis.
Rompe chamamento de ternuras.
Fervilha desejo de aventuras…

Aceno ao orgulho de mim.
Grito a verdade que sou,
pois ainda sou verdade,
sou pressa, sou sentido,
nas artes de viver e pensar…

Regressa som cantante da distância.
Rasgo na noite clara e luarenta
bate-me à porta em chamar vibrante…

Mesmo que o tempo de construir
já não seja o meu,
ao caminho que segue quero regressar…

Estive lá!
Sempre quero lá estar.


Jesus Varela

terça-feira, 23 de outubro de 2012

TRANSITORIEDADE



Fotografia / Sentidamente

 
O que escrevo
dilui-se no futuro
de outras fogueiras.
Perde-se no pó
levantado por outros passos
e no vindouro
de novos caminhos.

Mas… no hoje
está o agora.
Ondula aí a corrente do tempo
e aos vendavais
resiste o meu estandarte.

Jesus Varela

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A FORÇA DUM NÃO


Fotografia / Sentidamente


Ri a gargalhada do teu desespero!
Vamos! Assume-te e ri.
Diverte-te na sátira de ti.
Ecoa no ar leve da manhã
o pesar do teu anseio.

Nada de lágrimas!
Pára o lamento!
Aspira o momento.
Esvai-te no vento.
Embriaga-te na música.
Voa nas aves sem ninho…

Segue! Há sempre caminho.
Novo? Talvez!
Apesar da intermitente
amalgama de restos velhos,
sedimentos agitados na putrefacção.

Tudo vale o esquecimento
e o grito de ainda ser,
na força dum não.

Jesus Varela

quinta-feira, 24 de maio de 2012

VAZIO


Fotografia/ Sentidamente
Passos indistintos,
nas pedras da calçada,
povoam um tempo
a passar sem ter passado…

Soam longínquos murmúrios
de frases perdidas.
Afundam-se abraços
em nadas de vácuo.
Frios, os lábios retém beijos.
Nos descantos da vida,
afundam-se desejos.
O sangue já não é sangue,
só vermelho a desbotar...

No amarelar do dia, ao poente,
tudo se alonga num desenho de vazio.
Ténue, o sol não aquece o frio…

Resta só … final de curva sem caminho.

Jesus Varela

segunda-feira, 23 de abril de 2012

DESVARIO


(Fotografia e desenho de Sentidamente)
 
Perdi a verdade
no entardecer crepuscular
e faço de ti,
água a nascer
em pétalas de rosa,
semi desfolhada,
num tardio amanhecer…

Nada detém a verdade esquecida
e o não da rosa, voltará a ser vida.

Jesus Varela

quarta-feira, 18 de abril de 2012

FALSAS TRANSPARÊNCIAS

Fotografia / Sentidamente
No verde olhar vi o amor

e a inocência na criança.

Vislumbrei mundo melhor.

Projectei-me na esperança.


Não aceitava nem sabia,

só ver aquilo que olhava.

O futuro mais escondia,

o tempo tudo moldava,

e nada assim acontecia…


Límpido verde não era

espelho de meu mirar.

Foi passando a Primavera

e o verde sem querer secar.

A criança hoje crescida,

sua inocência afundou,

na experiência da vida

que ao seu redor encontrou.

O mundo não melhorou.

Nunca há-de melhorar!

crença foi e não voltou.

Não a sei reencontrar.


No rio não navego mais.

Não há destino seguro.

Já não espero no cais

a chegada dum futuro.

Ébria, ausente de vinho,

porque a vida me atordoa,

já não palmilho caminho,

vou dando passos à toa.


Jesus Varela