terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

INDIFERENÇA

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Fotografia / Sentidamente

Em espera! Parada no tempo,
Resto olhando o mar… Eternidade!
Exponho o rosto, ao passar do vento,
ausente na luta da verdade…

Sou pedra em estátua de perfil.
Lágrima presa, congelada em sal,
Sou nada! Resumo de tantos mil,
Saída encravada em escuro portal.
Sou espaço oco, só fachada!
Riso que soa ao amargo do chorar.
Nuvem de chuva, o Sol a tapar…

E sempre à espera de nada,
mergulho em coisa nenhuma!

Apertando a mão fechada
Retenho restos em espuma.

Já não sei limar arestas,
nem ensejo, tal fazer!
Se por entre o fumo há frestas,
há muito deixei de as ver!
E na farsa dos papéis,
onde também sou actriz,
deste palco colectivo,
desbaratei meus anéis.
pelo preço que não quis.
O meu querer ficou cativo…

Jesus Varela

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

SEQUÊNCIAS

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Expectativa na espera
Procura no recanto
Vago do momento
Longínquo dos horizontes
Contorno da silhueta
Insegurança da berma
Vazio da escuridão
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...............................................O tédio na solidão!...
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Murmúrio das fontes
Soluçar dos salgueiros
Sussurro das frondes
Bordado das estrelas
Ir e vir das ondas
Voo seguro da ave
Arrepio no ai da fera ferida
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...................................................A outra face da Vida!… .

Rendilhado da esperança
Crença no amor
Abraço no olhar
Partilha na conversa
Maciez da pele
Sal na boca
Direito e avesso

.......................................Tímido regresso!...
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A pressa na corrida
E o vagar na morte…
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...................................................Destino ou sorte ?
Jesus Varela

(Fotografias / Sentidamente)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

POEMA INTEMPORAL

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Fotografia / Sentidamente

CANÇÃO DA PRIMAVERA
(Ou poema intemporal)

Há flores, por todo o jardim, cheirando.
Há crianças de bata branca, sorrindo.
Há andorinhas negras, de paz, voando.
Há velhos estendidos ao sol, dormindo.
Há as cegonhas do parque brincando.
Há por todo o lado árvores florindo.

As mulheres do monte voltam cantando.
Enquanto os mais jovens passeiam rindo.

Há beleza por todo o recanto.
E há velas brancas, nos barcos lá no porto...
Mas não há só Primavera e encanto...

Há lá longe um soldado morto!
Aqui, há uma mãe banhada em pranto.
E as flores que levaria no caixão,
Vão à Virgem enfeitar o manto,
Contributo para uma oração.
Lá longe, o soldado continua morto.
Talvez sem sepultura, talvez sem caixão…
A seu lado, como último companheiro,
Talvez um cardo espezinhado,
Pelo seu passo derradeiro.

Jesus Varela

17/04/64

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

RETALHOS...

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Fotografia / Sentidamente
(E a vida vai-se compondo de grandes e pequenos momentos, alguns só lembrados em breves apontamentos que sobraram)

INCONSISTÊNCIA
Do que disseste não sobrou palavra!
Nem o calor terno, dum fugaz abraço!
Nem laivos de esperança, avivando o olhar!
Nem fortes soluços, afogando a garganta!
Nem gume de faca, dissecando o sonhar!
Nem o eco de passos, alargando a distância!...

O que não disseste… foi tanto e tão pouco…
Coloriu olhares e ateou fogueiras.
Expontâneamente crepitaram achas!
Mas só restaram cinzas no frio da pedra.
Cinzas tão leves, tão leves… que o vento,
Num pequeno sopro espalhou pelo ar…
E de ti, nem cinzas sobraram, para recordar
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Jesus Varela