quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

PRESENÇAS

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Fotografia/Sentidamente

LENTA DERROCADA


O Tempo parou, na casa caída.

Mas foi o mesmo tempo

quem sarou a ferida…


Resvalante grão de pó.

Subtil, invisível e constante

no abrupto declive intemporal.


Desagregam-se pedras, areia e cal.

Morte lenta da velha estrutura.

Condenação ao esquecimento sepulcral.


Pouco vai sobrando. Tudo abandonado!

Um dia, casa dos afectos, meu abrigo.

Cais ausente. É agora barco naufragado,

desfeito porto seguro, perdido amigo!

.

A dor aguda das faltas muito amadas
foi-se diluindo no amargo das lágrimas,

de tão velhas, hoje já não choradas…


Quando o dedo calca volta a doer.

Mas uma dor longínqua, não gritante…


Ouço o murmurado silêncio a desfazer

a querida casa minha, tão distante!


Jesus Varela


4 comentários:

  1. Minha querida

    Senti-me na nostalgia do teu poema...voltei às origens e vi a casa da minha infância...lindo como sempre ler a tua alma.

    Beijinhos com carinho
    Sonhadora

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  2. A quem não dói? O tempo tudo destrói, onde havia sonhos, risos de criança, o crepitar da lareira, o aconchego, os retratos nas paredes, e tantas lembranças, tudo acaba assim um dia.

    Como a existência é breve...

    Beijinho Mª de Jesus, adorei dar cá um saltinho, é sempre linda a sua escrita, ainda vou ver as suas fotos, também elas sempre bem conseguidas.

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  3. Este cantinho continua a ser de visita obrigatória, porque seria ficar mais vazia não apreciar as inspiradas poesias que acompanham as fotos que capta "sentidamente".
    Um beijinho

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  4. Pode doer, e dói, mas deixa que essa "velhinha" descanse com a certeza de que não a esqueces, e todos os dias a alegras com um expressar de momentos ricos de prazeres, bonitos, e muito vividos, numa eterna companhia que não se desfaz.

    Olha-a com um sorriso. Tens toda essa beleza nas tuas mãos e nós, neste teu...sentido post.

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