quinta-feira, 12 de março de 2009

PRECE

Foografia/sentidamente - Escultura em Terracota de Antonieta Roque Gameiro - Museu João Mário em Alenquer


MISERERE

Perdoai-me Senhor!
Perdoai-me, que eu não sabia…

No meu palácio
Batido por todos os mares de coral!
Encastoada de espumas,
e rendas,
e européis,
coberta de cetim e de anéis,
no meu palácio de ilusão
onde cantam sereias pela noite dentro,
Senhor!
eu não sabia nada…

Foi preciso que o céu se cobrisse
de nuvens negras,
e a tempestade sacudisse
a solidão dos meus salões,
para que eu, transida de medo
descesse aos subterrâneos do meu palácio,
em busca de protecção
e calor…

E nos subterrâneos…
só encontrei dor maior que a minha…
medo maior que o meu…
e loucuras,
e suor,
e fome,
e ódio frio,
e revolta surda,
e o cheiro putrefacto dos corpos
Que trouxe a maresia…

Ah! perdoai-me Senhor!
Perdoai-me…
que eu não sabia.

Março de 1949
Alda Lara

10 comentários:

  1. Por falar em África, não é?
    Muito comovente este poema da Alda Lara. Para mim, que interrompi o trabalho sobre a guerra colonial para vir espreitar o blog, a leitura política é evidente e as palavras inundaram-me com a força própria das visões literárias. É o poder das palavras. Tal como a miséria, no poema, rompeu o isolamento, a poesia rasga a solidão e lá nos vemos unidos pelas letras que são laços verdadeiros.

    A escultura também é evocativa. Mal abri a página e vi uma imagem que desconhecia fiquei curiosa por saber o que ela era. Uma desolação adequada a esta prece.


    A tua filha aguarda mais descobertas destas, incluindo a revelação dos teus poemas, mesmo dos que já conheço.

    Com amor enlaçado, Catarina

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  2. Olá Filha!
    Que lindo comentário fazes! Interpretaste o poema com profundidade, aliando conhecimentos e sensibilidade. Eu também gosto muito de ambos (poema e escultura). Mas muitíssimo mais e de forma diferente, gosto de ti…
    Beijinho MUITO TERNO E MATERNAL

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  3. Olha, e eu mal conhecendo também gosto de ti,ó filha da Juja.
    Gostei do teu comentário!
    A tua mãe está toda bloguista!
    E deve ser uma mãe babada (como todas as mães, claro) e....as tias( como eu) também o são pelas sobrinhas!...
    ;))))

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  4. Bem, vou usar o espaço da mãe para dizer que gosto muito das sardinheiras coloridas que nascem no alentejo e crescem na blogosfera! São fertéis em ideias e arrancam sorrisos (às vezes risos). E que uma vez me cruzei com uma certa sobrinha talentosa - que ainda não vi em palco - e com quem simpatizei.

    Continuem escrevendo as bloguistas que a leitora apraz-se ;)

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  5. Como vê Juja, está de parabéns!
    Qual é o primeiro comentário à sua belíssima postagem?
    A filha!
    Lindo mesmo!!!
    Adorei, a forma como ela envia os beijinhos e os abraços à mãe...
    Os filhos são: PRECIOSOS!!!
    A escultura, Belíssima!
    Quero vir sempre, conferir tudo o que tiver para nos mostrar e, dizer.
    Gosto.
    Um beijinho.
    :)

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  6. Pois é, amigas, Carolina e Teresinha. Sou mesmo "babada"poe esta "preciosidade" - A luz dos meus olhos, como a D. Luisa de Gusmão diz da sua filha Catarina de Bragança, no livro que estou a ler ("Catarina de Bragança", de Isabel Stilwell). A Carolina sabe qual é e já conhece o estilo.
    Beijinhos e até breve.

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  7. Adorei, e as coisas que a sua filha lindo,eu só de poucas falas mas gosto sempre de ler as vossas coisas um grande beijo.

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  8. Olá Maria José!
    Obrigada pela visita e pelas palavras.
    Um beijinho para si também.

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  9. Amiga Juja, a tua filha só pode sair à mãe !!!
    Passei e gostei do que li, gostei muito como tua a filha se expressou, um grande beijinho para as duas, espero velas este verão !!!

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  10. Oi Ana!
    Pode ser que os filhos tenham algo de nós mas muito mais têm de si próprios, o que marca a sua identidade.
    Encontrar-nos-emos. Prometo.
    Beijinhos.

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