sexta-feira, 5 de agosto de 2011

EUGÉNIO DE ANDRADE

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Fotografia / Sentidamente

POEMA À MÃE

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe.
Tudo porque já não sou
o menino adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha _ Queres ouvir-me? _
Às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda ouço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal…
Mas _ tu sabes _ a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade

3 comentários:

  1. Querida Juja,

    Que alegria! O cheiro chega até mim trazido
    pela brisa do nosso carinho. Sinto-te no meu coração como uma ave grande, de asas abertas protectoras, transportando uma flor que colheste num jardim mágico que encontraste pelo caminho. Bem Hajas.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Minha querida

    Hoje passando apenas para oferecer o selinho de 2 anos de blogue e dizer que sem o carinho de todos que me seguem e comentam não chegaria aqui, por isso esta comemoração é vossa.

    Beijinhos com carinho
    Rosa

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