domingo, 19 de setembro de 2010

DE QUEM É ESTA BRIGA (?)

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Fotografias / Sentidamente

Afirmas que brigámos. Que foi grave.
Que o que dissemos já não tem perdão.
Que vais deixar aí a tua chave
E vais à cave içar o teu malão.

Mas como destrinçar os nossos bens?
Que livro? Que lembranças? Que papel?
Os meus olhos, bem vês, és tu que os tens.
Não te devolvo – é minha – a tua pele.

Achei ali um sonho muito velho,
Não sei se o queres levar, já está no fio.
E o teu casaco roto, aquele vermelho
Que eu costumo vestir quando está frio?

E a planta que eu comprei e tu regavas?
E o sol que dá no quarto de manhã?
É meu o teu cachorro que eu tratava?
É teu o meu canteiro de hortelã?

A qual de nós pertence este destino?
Este beijo era meu? Ou já não era?
E o que faço das praias que não vimos?
Das marés que estão lá à nossa espera?

Dividimos ao meio as madrugadas?
E a falésia das tardes de Novembro?
E as sonatas que ouvimos de mãos dadas?
De quem é esta briga? Não me lembro.

Rosa Lobato de Faria

10 comentários:

  1. Querida:
    Hoje ao passar por mim um laivo de esperança, fugaz e pouco definido, ao procurar-te pensei que estas brigas, que são de todos nós, nada representam quando temos um fio no coração prestes a quebrar o nosso cordão umbilical. Só a imensidade do mar nos pode aliviar:

    Eu queria ser a imensidade
    do azul do mar ...
    das ondas, que no seu baloiçar,
    levam e trazem sinfonias
    de sereias encantadas,
    que vivem para Além
    de terras sonhadas,
    onde o dia é escuridão ...
    onde a própria desilusão
    Põe o manto da FELICIDADE !

    É assim que sinto o reflexo das tuas fotos.
    Bem Hajas

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  2. Belo e lúcido este poema!
    Não sei porquê, talvez pela partilha dos "bens" fez-me lembrar o livro de Mário de Carvalho " A Arte de Morrer Longe".
    Bela as fotos. Reconheci nelas, uma de Porto-Côvo.
    ;)

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  3. Olá linda, cheguei!
    (estive fora mais uns diazinhos em viagens, "por aqui, por ali"...!;)

    - Sabes que há dias tirei umas fotos ao Pôr-do-Sol, em Porto Covo, precisamente onde tiraste esta 1ª com o banquinho!

    Lindíssimo este Poema Da Rosa L. F.!!!
    Adorei, Juja.

    Abraço*_*)

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  4. Rosa Lobato Faria é alguém que me tira a capacidade de comentar.
    Senhora de muitas palavras que dizem mais do que o seu próprio significado.

    Sendo, como és, soberba na observação e captação, onde o resultado está nas fotos que hoje aqui deixas, tiveste a magna razão de as enriquecer com o poema da Rosa Lobato Faria.

    Permite-me, apenas, a leitura do poema que considero como "um Bem" que me ofereces.

    bj...nho

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  5. Olá amiga Juja, tudo bem contigo espero que sim, tive um pecadinho de tempo pois trago sempre coisas para passar e pôr por ordem, enfim !!! Passei por aqui como sempre, gostei de ler, a Rosinha L.Faria, foi uma senhora que escrevia muito bem, amiga um grande beijinho tudo de bom (*_*) !!!

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  6. Anónima, minha amiga!

    Um dia de esperança trouxe-te até aqui. Leste estas brigas de todos, mas com a dimensão que cada um consegue dar-lhes na sempre dolorosa gestão dos próprios problemas e emoções…

    Tão pouco constitui consolo dizer da não eternização de qualquer momento, sendo prova disso a procura de evasão ao agarrar a ESPERANÇA.

    Olha o azul marinho, absorve-o, fecha os olhos e deixa-te levar pelo balanço das ondas. Ouve as sinfonias, ecos das lonjuras habitadas por sereias, deixa ir o escuro e capta o dia, procura a FELICIDADE… Sabes fazê-lo!

    Envio-te um abraço, e enleio na minha ternura uma mensagem de CONFIANÇA, uma corrente de FORÇA, um apelo à CORAGEM.

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  7. Amiga Carolina!

    Não conheço o livro que referes. Vou tomar nota e poderá ser uma referência para próxima leitura.

    Gosto muito deste poema porque com palvras simples aponta para uma reflexão pertinente sobre o significado da partilha e quando ou como deixa de existir.

    Tens razão, esse banco é um amigo que visito frequentemente. Aí faço diversas fotografias, porque sendo o mesmo local, cada momento é sempre diferente.

    Beijinho

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  8. Olá Teresinha!

    Sempre que podes lá vais dar uma voltinha. Fazes muito bem! Até a “casa” sabe melhor no regresso.

    É de facto o Porto Covo. Também tenho muitas fotografias ao pôr do sol, tiradas nesse local e noutros. Mas nunca ficam boas. A minha máquina anterior permitia-me programá-la nesse sentido. Esta não o faz ou eu ainda não descobri.

    Gostaste do poema? De facto é lindo.

    Beijinho com ternura.

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  9. Olá Sérgio!

    Pois! Dizer para além das palavras é uma arte… estas são palavras muito simples onde transparecem simbologias muito intensas.

    Neste post. As coisas aconteceram um pouco ao contrário de como sugere. Embora neste Blog publique maioritariamente textos da minha autoria, por vezes sinto necessidade de fazer uma pausa e mostar outros autores. Desta vez quis dar a conhecer este poema e fui procurar fotografias ilustrativas do texto.
    Fico contente por ter acertado na escolhe e lhe ter oferecido “um Bem”.

    Um abraço

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  10. Olá Ana!

    É sempre bom encontrar-te por aqui, apesar do muito trabalho em que estás renvolvida. És uma mulher de coragem! mas vais ser recompensada e conseguir finalizar muito bem esse curso.

    Sabes, é inaugurada este fim de samana, em Almodôvar, a tal exposição sobre a República no Alentejo, na realização da qual a Catarina está envolvida. Vai haver também um colóquio no Sábado, onde ela intervém e eu vou lá assistir.

    Beijinho grande

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