domingo, 24 de janeiro de 2010

JARDIM DE INVERNO

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Fotografias/sentidamente

Hoje, dia de chuvas e de ventos,
há pânico total neste jardim…
Flores, se perfeitas noutros tempos,
são agora farrapos de cetim.
As aves silenciaram o cantar
numa inexistência simulada.
Escondidas, não se atrevem a voar,
em gesto de prudência adivinhada.

Pequenos seres estão escondidos,
presenças não vistas mas sabidas.
Num utilizar arguto dos sentidos,
preservam no seguro as suas vidas.
Nos empedrados, folhas amarelas,
correm danças tristes e forçadas.
Brilham nalguns ramos, como velas,
gotas de chuva, à luz alumiadas.

Corre um ondular descendente,
no lago, habitualmente tão parado.
Marginais juncos, abanam docemente,
num murmurar triste e desolado.
Altas folhagens tremem alterosas.
Ou protestam sussurros plangentes.
São longas conversas lamentosas,
ora iradas, ora calmas e dolentes.

O sol não brilha mas algo é luminoso,
nesta hora subtil de fim de dia.
Emprestando um fascínio poderoso,
faz do simples e natural, pura magia.
Fico suspensa, receosa, deliciada…
Num confundido mas real enlevo.
Indecisa, sinto-me se partir, culpada,
pelo encanto que quebro, mas não devo
!

11 comentários:

  1. Minha querida
    Quanta inspiração...lindissimo poema.
    Adorei.

    beijinhos
    sonhadora

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  2. Lindo!
    Juja, escreves dia a dia, ou são poemas que tiras da gaveta?
    Curiosidade, perante tal manancial de escritas!
    bjhs

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  3. Todo esse "quadro" triste derivado desse vento, dessa chuva, são, também, encanto da natureza que mais uma vez se prova pela beleza das fotos que continuas a tirar. São outras cores que não deixam de alegrar as tuas palavras numa inspiração poética que ao ler, me deixa no desejo de rever essas paisagens de pura alegria e imaginário no seu movimentar.
    As folhas mudam de cor, as árvores partem-se, as aves vivem no escondido, o lago torna-se movimentado e cheio de despejos antes ramos e folhas cheias de vida mas...tudo se prepara para um renovar e a beleza não deixa de existir.

    bj

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  4. Pois é Sonhadora, tudo à nossa volta tem a sua dose de maravilha! É só querermos ver e depois dizer… Comigo é assim que funciona…
    Um beijinho

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  5. Respondendo à Carolina:
    Há alturas em que todos os dias escrevo e há outras que não. Depende do meu estado de espírito. Por vezes estou num local e sinto tão intensamente o que me rodeia ou algum tema que me surja que tiro notas sobre as ideias principais e mais tarde faço a composição. Por vezes, essas notas saem logo, quase exactamente, com a forma definitiva.
    Enfim, um processo nem sempre igual, que varia conforme a minha disposição e a oportunidade de escrever. Se não escrever logo, depois já não me lembro. Pode acontecer também querer escrever algo, por vezes temas que me propõem, e vou amadurecendo o projecto até que me sento para o fazer.
    Quanto à gaveta, ela existe desde velhos tempos e tem lá muitas coisas, caracterizadas pelas respectivas épocas e vivências. Qualquer dia abro-a e faço sair para publicar, por exemplo, poemas de amor.
    Este jardim de Inverno é recente, deste mesmo Inverno e o jardim é o da Gulbenkian, onde muitas vezes vou “fazer tempo” nos intervalos das minhas actividades e onde também gosto de tirar fotografias.A de baixo foi tirada lá.
    Satisfeita?
    Beijinhos

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  6. “Segredos”
    Tem razão. Esta etapa do ano é a preparação duma outra que logo virá, flamejante de cor e riso… Contudo, esta não é triste nem tão pouco feia. É só diferente, mas bela também! Eu gosto de sentir o vento e a chuva. São igualmente belas manifestações da natureza. Depois, sabemos que tais manifestações são também agressivas e atingem cruelmente aqueles que não lhes podem fugir e sofrem os seus efeitos, não por “prazer” , mas porque não têm alternativa… Essas são outras histórias, onde entram em jogo factores sociais e pessoais. A natureza nada tem a ver com isso. Aos nossos olhos cabe não esquecer e ver também esse lado, sem deixarmos que nos afecte a capacidade de apreciar o belo.
    Até sempre

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  7. Um belo canto triste e plangente à natureza na sua quadra mais cinzenta e desolada em que também nós nos sentimos como ela!

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  8. Querida Amiga,

    Concordo plenamente contigo e, de maneira nenhuma, alienar-me das faces drásticas faz parte de mim. Quantas vezes o coração se me parte e os meus olhos choram pela injustiça com os desafortunados.
    O meu comentário tem, exclusivamente, relação com as tuas, repito, beleza de fotos conjugadas com as tuas palavras.

    bj

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  9. Verdade Lami, O tempo influencia a nossa disposição e muitas vezes, embora lhe reconhecendo beleza, sentimos que nos envolve em nostalgia.
    ;

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  10. Para "Segredos":
    Quando falei das questões daqueles que sofrem as intempérias, não estava a responder a qualquer significação que tivesse percebido nas suas palavras. Foi uma divagação minha, algo que me veio ao pensamento e que senti, como se estivesse de alguma forma a ser injusta, ao dar ênfase à beleza das manifestações mais agressivas do tempo.
    Peço desculpa por não ter sido clara.
    Um abraço

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  11. Não há que pedir desculpas. Eu também não referi, ao comentar, as partes más que a natureza provoca e tantas são.
    É sempre bom lembrar que, o que é bonito... também pode provocar efeitos negativos.

    bj

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