segunda-feira, 28 de setembro de 2009

SER MULHER

.


Fotografias / Sentidamente - Esculturas do Museu Municipal do Bombarral

A história dá-nos uma imagem da mulher relegada para segundo plano, num mundo de que fazia parte e que só com o seu papel se poderia manter e continuar.
Desde quando? Há indícios que levam a pensar nem sempre ter sido assim. Vestígios de sociedades matriarcas e a importância da mulher representada como deusa, onde o destaque da representação avoluma, no simbolismo das suas profusas formas físicas, a importância da maternidade.
Analisando a história conhecida, comprovamos que em todo o mundo a mulher foi considerada secundária nas sociedades, cabendo-lhe no entanto tarefas muito importantes, tais como os cuidados com a família, a manutenção da vida doméstica, a manufactura de artefactos e primitivamente o recolectar alimentos passando depois a cultivá-los, enquanto o homem se ocupava da defesa e da caça.
Interessante se pensarmos, como algumas religiões conceberam a mulher, na explicação sobre a criação do mundo e dos homens. Um ser curioso e irresponsável mas com uma atitude de procura, tão igual à que hoje aclamamos na investigação por mais saber. A curiosidade de Eva, leva-a a comer o fruto proibido, iniciando desde aí um mundo longe do paraíso, mas este nosso mundo, com o bom e com o mau. Segundo a mitologia grega, Pandora, a primeira mulher criada por Zeus, por curiosidade, em desobediência e num gesto proibido, destapou uma ânfora cheia de desgraças, espalhando o mal sobre a Terra.
Apesar da secundariedade do seu lugar, houve mulheres que se destacaram no exercício do poder, representando os maridos ausentes, ou os filhos enquanto menores de idade e até como legítimas governantes, deixando marcas dum mando igual ou superior ao de muitos homens, pela positiva mas também algumas vezes, pela negativa.
Há vários registos de situações de mulheres que para aceder ao mundo dos homens, vestiram-se como eles e fizeram história, passando como incógnitas mas pagando caro, quando descobertas. Algumas foram combatentes nas guerras, outras pretendiam exercer profissões interditas ao mundo feminino ou frequentar cursos universitários, a que somente os homens tinham acesso. Lembremos ainda figuras lendárias como Joana d’Arc, heroína francesa, fez-se guerreira e dos 17 aos 19 anos, foi vencedora nas lutas contra os ingleses, até ser capturada e queimada viva ou Mary Read, pirata temida durante muitos anos e que morreu em 1720, numa prisão na Jamaica, onde estava prisioneira dos ingleses.
Tantas outras formas de fugir a um destino indesejado foram engendradas ao longo dos tempos. Como exemplo, as idas para os conventos, o que significava a fuga ao domínio masculino no lar e por vezes, a possibilidade de uma vida própria onde o saber era possível. Daí saíram mulheres de grande nível intelectual e artístico. Foi assim Herrad de Landsberg, abadessa de Hohenburg que viveu no século XIII e fez a primeira enciclopédia da autoria duma mulher, “Hortus Deliciarum”, (jardim das Delícias), artisticamente ilustrada e que se destinava ao ensino das suas religiosas. Há ainda o exemplo das mulheres que escrevendo, usaram pseudónimos masculinos (George Elliot, George Sand, entre outros).
Foi um longo caminho, marcado por lutas individuais e de grupo, mas sobretudo por sucessiva renovação das ideias e dos contextos sociais que trouxe as mulheres, à posição dos dias de hoje. Apesar do que ainda há para fazer, ficou para trás o tempo em que limitadas ao espaço caseiro e a trabalhos próprios e menores, definhavam perante os seus anseios e capacidades amputadas.

(Este texto escrito por mim, foi baseado numa parte do prefácio do livro "Histórias de Mulheres" de Rosa Montero. O citado prefácio, por ser longo e descritivo não me permitiu a sua transcrição.)

4 comentários:

  1. E tudu isto porque , quanto a mim as LEIS sáo feitas por homens e eles sabem bem o que lhes convem. Relegam para 2º plano as mulheres e delegam-lhe as tarefas que a eles não interessam porque dão muiiiito trabalho!...
    Sempre pensei que se o MUNDO fosse governado por Mulheres seria muito mais justo e equilibrado.
    Já li um livro da Rosa Montero: A Louca da Casa, lembro-me de o ter achado interessante.
    Esse de que falas também me parece muito esclarecedor.
    ;)

    ResponderEliminar
  2. Pois é Carolina! Tem sido uma longa caminhada e a maioria das conquistas são ainda muito recentes. Contudo continuamos a assistir por esse mundo fora a situações aviltantes e vergonhosas não só para a mulher subjugada mas sobretudo para as sociedades que subjugam e menosprezam! Esperemos que a pouco e pouco se atinja a normalidade.
    Quanto ao livro, retirei-o do armário quando escolhi os que te levei e estou a relê-lo. Gosto da escrita da Rosa Montero e este livro fala de várias mulheres que ficaram conhecidas.
    ;);)

    ResponderEliminar
  3. Eu julgo que a raiz da discriminação feminina é igual a todos os tipos de discriminação, tem sempre a ver com uma relação de forças. Na realidade quase todos nós somos um potencial alvo de discriminação por qualquer motivo, sendo que para isso basta a diferença. O que é curioso é como esse facto não incrementa o contrário, ou seja, a solidariedade e tolerância para com os outros. A emancipação de um grupo, sempre tão duramente conquistada, não implica a emancipação de todos... Isso é, para mim, extremamente perturbador.

    Por isso tens razão quando dizes que os actos de subjugação envergonham as sociedades e não apenas os indivíduos que os praticam.

    f.q.

    ResponderEliminar
  4. De facto, a emancipação acaba por ter limites. Mas a expressão da solidariedade existe. Como força diminuta mas sendo motor para novos avanços. Consubstancia a esperança que não morre. É a pequena chama que mantém a luz acesa e que se propagará, permitindo atingir uma luminosidade mais vasta e mais intensa. Acredito que sim! A luta continua, senão para nós, destinada a outras, ainda interditas às liberdades.
    Beijinho terno,f. q.

    ResponderEliminar