domingo, 20 de setembro de 2009

"CANTO DE MIM MESMO"

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Fotografias / Sentidamente

(canto 48)

“Já disse que a alma não é mais do que o corpo,
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E disse que o corpo não é mais do que a alma,
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E nada, nem Deus, é maior para uma pessoa do que ela própria,
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E quem caminha duzentos metros sem amar caminha amortalhado para o seu próprio funeral,
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E eu ou tu que não possuímos um centavo podemos comprar o melhor que a Terra contém,
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E olhar com um só olho ou mostrar um feijão na sua vagem desconcerta a aprendizagem de todos os tempos,
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E não há ofício nem emprego em que um jovem não se possa converter em herói,
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E não há delicado objecto que não possa servir de eixo às rodas do universo,
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E digo a todos os homens e mulheres: que a tua alma permaneça tranquila e serena ante um milhão de universos,
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E digo à humanidade: não sintas curiosidade por Deus,
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Porque eu que tenho curiosidade por tudo não sinto curiosidade por Deus, (Não há palavras que possam definir a paz que sinto em relação a Deus e à morte).
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Escuto e contemplo Deus em cada objecto, ainda que não O entenda minimamente,
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Nem entenda que possa existir alguém mais maravilhoso do que eu próprio.
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Porque é que desejaria ver Deus melhor do que este dia?
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Vejo algo de Deus em cada uma das vinte e quatro horas, e vejo-o em cada momento que passa,
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Vejo Deus no rosto de homens e mulheres e no meu próprio rosto ao espelho,
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Encontro cartas de Deus espalhadas pela rua, todas assinadas com o seu nome,
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E deixo-as onde estão pois sei que vá para onde for,
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Chegarão sempre outras pontualmente.”
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Walt Whitman
"Canto de Mim Mesmo "

10 comentários:

  1. DIÍCIL COMPREENSÃO PARA ESTE "CANTO DE MIM MESMO"...Fiquei um pouco baralhada talvez tenha necessidade de o ler mais vezes. Mas gosto de pensar e por isso agradeço a escolha do poema que não me deixou indiferente.Um abraço grande.

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  2. Simplesmente magnífico! grande texto, belíssimo poema.
    Deus é assim um de nós; está em toda a parte, em toda a gente e em tudo o que existe! Ele é essência, natureza, vida, morte, verdade, realidade e além!
    Como eu também assim o sinto!Mas talvez, o não conseguisse jamais verbalizar. Os poetas, esses dizem o indizível!
    Jinhos.

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  3. Walt Whitman, viveu na América no século XIX (1819 – 1892). Foi um autodidacta e com uma vida profissional recheada de diversas experiências, inclusive na Guerra da Sucessão. A sua poesia é uma reflexão sobre a conturbada realidade americana desse tempo, aliada a temas relacionados com o seu próprio ser, numa dimensão humana física e espiritual, e numa atitude de procura, interrogação e desafio.
    A sua poesia provocou polémicas ao longo de muito tempo até ser reconhecido como valor real.
    Neste poema eu vejo uma contestação interrogativa à ordem estabelecida em termos gerais:
    Superioridade do corpo sobre a alma, vice versa ou um todo único? (posta em causa a imortalidade da alma?).
    O dualismo da individualidade e sociabilidade bem como a necessidade do amor.
    A pouca consistência dos valores materiais estabelecidos, a possibilidade dos reais valores estarem nas coisas mais insignificantes e poderem vir das acções menos previstas. Valor ainda da aprendizagem.
    Quanto às questões sobre Deus, a interpretação da Fátima (Banalidades) foi perfeita. Refiro apenas, a propósito da curiosidade/inquietação sobre as questões de Deus, que muitas das guerras que assolam e assolaram o mundo, têm como raiz questões religiosas.

    Aproveitei o comentário da Céu para deixar o registo da minha interpretação sobre este poema. Porque é minha, não sei se está correcta. Mas lê-lo e pensar nele valeu, pelas interrogações que também levantou em mim.
    Um beijinho e obrigada

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  4. Obrigada Fátima pela interpretação tão bela, sucinta e clara que fez deste poema.
    Um beijinho

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  5. Não tenho palavras para as tuas fotografias, Juja.
    Só posso dizer-te que me encantaram e, apetece-me ficar a olhar para elas enquanto penso nas palavras que Walt Whitman nos deixou...
    Conheço dele, "Folhas de Ervas".
    Lindíssimo, também!

    [...] Morangos com gelo e frescos ramos do terceiro mês para os jovens que vagueiam pelos campos quando o inverno já se retira, corolas de amor perante ti e dentro de ti sejas tu quem fores, corolas que se hão-de abrir à maneira antiga, se lhes trouxeres o calor do sol, abrir-se-ão adquirindo forma, cor e perfume para ti, se te transformares em alimento e humidade elas transformar-se-ão em flores, ramos altos e árvores.
    Walt Whitman/Folhas de Ervas

    Para ti com um sorriso, Teresinha^_^)

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  6. Muito bonito!
    Não conhecia, nem o texto nem o autor.

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  7. Já li todo o "Canto de Mim Mesmo"! Há passagens magníficas... que muitas vezes não apreendemos à primeira leitura...

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  8. Teresinha!
    Não conheço “ Folhas de Ervas” mas o extracto que me deixaste é belíssimo e o título do livro tem uma sonoridade de que gosto. Fiquei curiosa e vou procurá-lo. Obrigada pelo teu comentário. A primeira fotografia, em contra luz, foi tirada nas últimas férias. Tirei a outra numa tarde de Inverno, no Sul de Espanha há uns quatro anos.
    Também para ti um beijinho sorridente

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  9. Sabes Carolina? Comprei este livro aí pertinho de ti. Penso que no teu livreiro, como costumas dizer. Habitualmente passamos por essa livraria quando estamos de férias, bisbilhotamos e acabamos por trazer sempre alguma coisa…
    ;);)

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  10. Obrigada a Ignotu, pela passagem e pelo comentário. De facto, o "Canto de Mim Mesmo", é um livro para ler, parar e pensar.
    Até sempre

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