terça-feira, 7 de julho de 2009

REGRESSO A SINES

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Fotografia / Carlos Mendonça - Sines 1970

Desce meu olhar da amurada!
Lá em baixo, num azul de infinito,
O mar. Tão calmo! Tão bonito!
Reflectindo esperanças de alvorada.

Vislumbro no redondo da baía
Pequenas ondas, murmúrios de segredos.
Espelho meu! Sombra de meus medos!
Lembrança ténue dum sonho que fugia.

Quanto do que vivi nesse lugar,
Guardei na intimidade do meu ser!
Momentos que se difíceis de esquecer,
De tão longínquos, nem os devo recordar.

Guardo de ti memórias preciosas,
Ternos tesouros, afectos já perdidos.
Lembranças fugazes de dias vividos,
Campos semeados de nefastas rosas.

Águas serenas que afago docemente.
Areia macia a escorrer-me entre os dedos.
Guardai para sempre os meus segredos.
Herança de mim, em tempo de poente
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18 comentários:

  1. Boa noite
    Meu Deus tanta iluminação.Beber toda esta sabedoria de uma pessoa tão encantadora é para mim um grandioso privilégio. Eu sou a sua segunda admiradora porque a primeira é uma encantadora filha.
    Um beijo saudoso
    Dalila

    A vida é como a música.
    Deve ser composta de ouvido,
    com sensibilidade e intuíção,
    nunca por normas rígidas. "Samuel Butler"

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  2. Falar de Sines é falar com amigos...terra que me viu nascer,crescer...viver...
    A foto são memórias que nos fazem doer de saudade. Obrigada por estes momentos.
    Um abraço

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  3. Também eu tenho memórias doces de Sines, sítio a que gosto e preciso de voltar regularmente para ver essa baia, esse porto de pequena pesca e grandes embarcações. Quase todas as recordações vêm do primeiro verão que lá passámos, marco de um reencontro com o Alentejo da mãe.

    Beijo da grande admiradora qe é, de facto, a filha.

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  4. A Sines da minha infância perdura apenas na minha memória e por isso é mais minha.Percorro o estradão amarelo que passa ao lado do Farol e desemboca na Praia do Norte,onde mergulho na Poça da Claudina e descubro o fundo do mar.Na muralha do Castelo inspiro o adocicado dos canaviais e tansporto-me para a azáfama da Lota, na Ribeira.Alguém pinta com carinho o nome de uma traineira:"Célia Maria".Depois de mais um banho nas águas frias da baía fecho os olhos, e vejo na Esplanada ,um magote de almas negras que escutam religiosamente o fado ,incarnado em Fernando Farinha.Foram tantos Verões felizes,os da minha infância!

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  5. Anónimo, vê-se bem que conheceu Sines de outras eras.
    Juja, bela e melancólica fotografia, belo texto como sempre.
    A "comentarista" «O céu da Céu» é de uma amiga e colega minha. Diz que gosta muito do teu blog.
    bjhs

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  6. Olá Dalila!
    Que bom tê-la por aqui! Tão bom ter gostado desta janela! Só acho que não mereço tão grandes elogios. Considero-me vulgar. Pode crer! O que sei é uma parcela ínfima, do que gostaria de saber. Falta-me tanto! Mas muito do que sei, foram os anos que me ensinaram, num natural processo de aprendizagem, e como diz na citação que faz, usando muito a sensibilidade e a intuição, mas também lendo e estudando com alguma persistência.
    Tenho todo o gosto em saber que vai voltar.
    Um grande abraço e um beijinho amigo.

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  7. A Céu nasceu e cresceu em Sines. Eu nasci e cresci aí perto, em Santiago. Mas Sines fez sempre parte da minha vida. Aí vivia muita da minha família e habituei-me a estar presente. Foi com mágoa que vi a destruição. Um tempo em que se descaracterizou, e se desbaratou o tesouro que ao longo dos séculos a natureza e o homem foram criando e preservando...
    Contudo, as feridas saram e hoje, com cara diferente, considero que Sines continua linda! Voltei a ter vontade de lá ir e vou, admirar o belo de hoje e recordar o belo de ontem.
    Eu é que agradeço a sua visita e as suas palavras e retribuo o abraço.

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  8. É muito bom quando sentimos que os sítios dos nossos afectos se prolongam no coração dos filhos, como um eco de nós mesmos…
    Beijinho para a F. Q.

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  9. Anónimo que assim quis continuar, mas que nos deixou a identidade duma criança percorrendo Sines, banhando-se nas suas águas, sabendo olhar à volta e ver os pequenos pormenores, tornados grandes, no prolongar do tempo. Agrada-me ter dado uma deixa que levou alguém, a recordar e a falar-nos, duma infância feliz…

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  10. Olá Carolina!
    A propósito deste anónimo que tão bem conheceu "Sines de outras eras", cheguei a pensar ser um certo J.P. mas depois do teu comentário, achei que não seria. Seja quem for, gostei do registo que deixou.
    Eu já conheço a Céu. Costumo ler os seus comentários nos vários blogs e também visito o dela. Outro dia, ganhei coragem e até comentei. Foi bom saber que ela gosta de vir aqui.
    Quanto à foto acho-a linda! Serena! Melancólica? Será o preto e branco que transmite essa sensação ou será o sabermos que já não é assim?
    Beijinhos

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  11. Olá Juja.
    Há dias vim até aqui, deixei um comentário e, devo ter saído "apressada"...
    Hoje, voltei e verifico que afinal não entrou!
    Por vezes é necessário clicar duas vezes.
    Foi isso concerteza.
    Não me recordo já do que disse na íntegra mas, sei que lhe contei que conheci Sines em finais dos anos sessenta, quando regressávamos do Algarve onde tínhamos ido ver as amendoeiras em flor. Foi em Fevereiro, pelo Carnaval.
    Tirámos até algumas fotografias, (a preto e branco ainda), na subida da praia para a Vila.
    Abraço da Teresinha

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  12. Juja, as memórias do J.P. são mais de S. Torpes!...
    ;)

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  13. Olá Teresinha!
    Na década de sessenta ia eu passar o Carnaval a Sines. Residiam em Sines, o meu avô e dois tios com as respectivas famílias. Ficava de Sábado de Carnaval até Quarta Feira. Tinha um grupo de amigos de Santiago, Sines e até de Beja onde estudei. Também era a minha praia. Em menina durante uns anos e depois já adulta além de algumas semanas de veraneio, marcava presença quase todos os fins de semana, mal começava o bom tempo. Ia de camioneta ou de comboio. Foram bons tempos! Sines era linda! Acho que hoje também o é. Mas houve uma época em que me doía ir lá…
    Beijinhos

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  14. Pois é Carolina! Eu não sabia exactamente das vossas ligações com Sines. Achei o estilo dele e também porque me parece mais masculina esta forma de se movimentar na vila. Mas talvez esteja a ser preconceituosa e seja uma presença feminina. É assim, o anonimato suscita uma certa curiosidade…
    ;);)

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  15. Sentidamente, admirei a foto e li o poema!
    Que saudades de Sines naqueles tempos, em que a baía pequeníssima, albergava a lota, a casinha do salva-vidas e a nossa praia sempre de águas geladas, mas de uma areia imaculada!
    Vivi a minha infância em Sines, junto do largo da Senhora das Salvas, cujas procissões, a 15 de Agosto, assisti consecutivamente!
    Quase todos os dias, ia olhar a lota e via chegar os botes que vinham carregados das traineiras. Depois, os pescadores com os seus chapéus de lata, carregavam as caixas de peixe até à zona da lota, onde num múmurio sempre estranho, se vendia o peixe! Cá, no muro, ficava o cheiro a caldeirada da taberna do Maurício!
    Também me lembro da Poça da Claudina, lá para os lados das Pedras Amarelas...
    Brinquei muito no pinhal, nos medos cheios de camarinhas, que apanhava para a minha mãe fazer compota!
    A minha primeira mestra foi D. Marília, uma senhora que vivia no bairro dos pescadores; com ela aprendi as primeiras letras, a ler, a contar... Aí, também residiam meninas que tanto brincaram comigo: a Fátima Abenta, a Lilia, a Judite, a Maria Augusta, a Manuela Paixão... Que saudades!
    Também recordo a Esplanada, com os seus dias de matinée... Ia lá dançar e conviver com as pessoas da minha idade. Foi lá que vi o Gabriel Cardoso, a Tonicha, a Marissol, o Joselito! Belos tempos!
    Sines era uma terra pequena, mas sempre cheia de gente e de alegria!
    Talvez seja a batida daquele mar tão azul que se lhe estende aos pés. Sines é lindo!

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  16. Banalidades! Depois de ler o seu comentário fiquei emocionada a pensar em como as emoções, sentimentos e recordações se soltam e fluem quando se afasta, mesmo que ao de leve, a cortina do tempo e se vislumbra o nosso passado de infância e juventude.
    Muito do que disse ecoou em mim. A praia que nunca esquecerei. Água, de facto muito fria mas tão serena que me permitia nadar, até quase aos pequenos botes, ancorados ali por perto. Depois os passeios ao longo do areal e a subida ao pontão, lá no fim da praia para o lado sul. A Esplanada também permanece na minha memória. Lembro-me de criança, ao colo dos meus pais, ir ao cinema e ainda guardo algumas imagens dum pé de feijão, crescendo até ao céu. Mais tarde, também aí ia dançar nas matines de Domingo. Saía mais cedo da praia, ia cumprimentar a família e depois juntava-me às minhas amigas na Esplanada. Por vezes perdíamos a camioneta e tínhamos que regressar de comboio… Que bom ter memórias assim! São tesouros que guardamos com muito carinho!
    Um abraço e bem haja

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  17. Amiga Juja, eu sempre vinha a Sines, à praia ! Mas nunca me passou pela cabeça de algum dia vir morar para cá, estou aqui à nove anos gosto de morar aqui e gosto das pessoas desta Terra, em especial a querida amiga Céu, um bj para ti.

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  18. Olá Ana! Como eu tenho saudades do meu Alentejo! Como gostava de viver por aí nos últimoa anos que me restam ou ter um cantinho onde me refugiar de vez em quando. Mas a minha escolha foi vir viver para a grande cidade e cá estou, aguentando a vida como se me apresenta. Passou o tempo dos sonhos!
    Um grande beijinho para ti

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