sábado, 11 de julho de 2009

ALENTEJO – Breves Flashes

.d..o Alentejo onde vivi)agens que guardo d


. Fotografias / Sentidamente
.
(Imagens que guardo dum Alentejo onde vivi)
.
Primaveras:

Dos exemplos de harmonia na mãe natureza,
Aliando promessas de vida e tons de beleza.

Dos dias com céu azul e nuvens de brancura,
A derramar chuviscos, promessas de fartura.

De verde colorido, em tapete aveludado,
Estendido nas colinas ou debaixo de montado.

Do rubro das papoilas. Das searas ondulando,
Guardiãs de espigas que se estão formando.


De árvores onde brotam rebentos, ainda incipientes.
Doutras, já floridas, prometendo frutos e sementes.

Onde, sob uma ponte, num ribeiro em enchente,
Esforçados nenúfares em flor, resistem à corrente
.

Verões:
.
Das ondas de calor, elevando-se a tremer.
Como fornalhas sem chama, ao longe a arder.

Dos tempos de colher. Duras fainas por cumprir.
Que permitem, por bem pagas, guardar e prevenir.

Dos silenciosos relâmpagos, envoltos em magia,
Riscando céus longínquos, ao findar do dia.

Das belas noites estreladas, serenas e cálidas.
Dos luares de Agosto, alumiando sombras pálidas.

Dos ecos de canções, tristes e lendárias,
Lamentos dos pastores, nas noites solitárias.

Das madrugadas claras e orvalhadas,
Trazendo todas as frescuras desejadas.

Outonos:

Dos dias deslumbrantes, antecedendo o Inverno.
Pausa bem-vinda entre um céu e um inferno.

Dos vinhedos com maduros cachos por cortar.
Das nozes e bolotas, prontas para apanhar.

Das amoras oferecendo-se nos silvados.
Das bagas salpicando os verdes dos valados.

Das urgências em arranjar abrigos seguros.
Para guardar os bens, de temporais futuros.

Das terras escuras, sulcadas do lavrar.
Do cair das folhas, brilhantes ao luar.

Dos fins de dia, mornos, entre o ouro e o anil.
- Fascínios de Florbela, entornando o seu gomil.

Invernos:

Dos ventos, chuvas, lamas, campos alagados.
Dos caminhos impedidos de serem transitados.

Das gentes molhadas, por ser fraco o agasalho.
Das fomes e misérias, por falta de trabalho.

Dos dias cinzentos, escuros, tristonhos.
Das noites de breu, com temporais medonhos.

Do consolo aconchegante. As lareiras crepitando.
Como se em desafio, estivessem ao vento ripostando.

Das conversas de serão: contos místicos e fatais.
Ao som do mugir do gado, no quente dos currais.

Das duras lutas do dia a dia, contra as adversidades,
Dum tempo que passou, deixando estas verdades.

10 comentários:

  1. Muito me orgulho de ser Alentejana, amiga Juja, sempre me recordo dos longos e felizes 17 anos que vivi no Monte Branco !!!
    Agora vivo no meu Alentejo, na (Cidade de Sines) tenho uma vida diferente mas sou sempre Alentejana !!!
    Um grande beijinho para ti.

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  2. Eu também me orgulho das minhas origens! Guardo com muito carinho as recordações das pessoas e dos lugares. Lembro-os hoje, como se tudo estivesse igual. Embora saiba que não é assim!
    Um beijinho, amiga Ana.

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  3. Foi "abalando" e ficando longe do Alentejo que melhor percebi esse estado d'alma que é ser alentejano.Obrigado por me ter feito sonhar Sines e o Alentejo.Não sei porque me escondi atrás do «Anónimo»,mas,também não sei tanta coisa.O meu nome é Carlos e sou alentejano.

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  4. Olá
    Boa noite. Que lindas transcrições de tempos idos. Sabe que em Trás-os-Montes também era assim!.. As fotos, sobretudo a 3ª e 4ª recordam-me o meu tempo de criança. Quão difíceis esses tempos, mas sempre uma grande lição.
    Um beijinho

    Dalila

    "Pudesse eu como o luar
    sem consciência encher
    A noite e as almas e, inundar
    A vida de não pertencer" Fernando Pessoa

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  5. Juja, fizeste-me lembrar do Cesário Verde.
    Creio que pelo "visual" dos teus textos. Senti que tinham côr e cheiro!
    Escritos a apelar aos sentidos!
    Grande poeta é o Povo Alentejano!
    ;)

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  6. Bem-vindo Carlos, conterrâneo alentejano!
    Os lugares existem. Iguais ou com diferenças, estão lá! Mas o regresso não preenche o vazio da ausência porque não traz de volta os tempos do passado! Eles só estão vivos na lembrança daqueles que os viveram! Com o passar e passar dos anos, vão-se a pouco e pouco apagando tais memórias, ficando a falar deles, alguns registos escritos, para além, duma vaga e estereotipada referência colectiva!

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  7. Olá Dalila!
    Pois é! Há muita semelhança nas vivências campesinas no nosso país. Parece ter adivinhado que as duas primeiras fotos, tirei no Alentejo e as outras duas, em exposições temporárias a decorrer em dois museus que visitei recentemente. Não no Alentejo, mas na Estremadura. Porque me pareceu que também ilustravam o ambiente alentejano, integrei-as neste post.
    Obrigada pela visita e pelas palavras que deixou.
    Um beijinho

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  8. Carolina!
    Estas imagens vivem mesmo dentro de mim! E doíam-me de saudade quando pensava nelas. Então um dia transcrevi-as para o papel e não é que me senti extremamente aliviada! Agora sempre que quero, recordo-as lendo! E mais importante ainda, partilhei-as. Sabe tão bem fazer sair as nossas memórias ao encontro dos outros!
    Será que isto justifica o que disseste?
    Beijinhos

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  9. Estimada D. Maria de Jesus
    Gostei muito deste poema das Primaveras, Verões, Outonos e Invernos doAlentejo que me recorda oAlentejo de há muitos anos.
    Pela sua partilha dos seus poemas aqui lhe deixo um pequeno poema:
    "Somos filhos da partilha
    Do amor de nossos pais
    Partilhar não empobrece
    Partilhar enriquece mais"
    Parabéns
    António Silva

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  10. Sr Silva!
    Obrigada pela visita e pelo poema que deixou e que como de costume encerra uma grande verdade. É muito importante que não guardemos para nós o que importa compartilhar.
    Até sempre

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