domingo, 7 de junho de 2009

VOZES DE AGORA

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Fotografias / Sentidamente
As Horas

Os hebreus dizem: a hora do pombo
é o princípio do dia
a hora do corvo
o princípio da noite.
Eu digo: como se gastou a minha,
luz tão cedo.
É quase sol posto.

Quem Pudesse

Quem pudesse ensinar à criança
a activar a alvorada
a acordar com o canto dos galos
a banhar-se nos rios
a brincar com os cardumes
a beber água da fonte
a platar árvores
e a retardar o poente.
.
António da Silva Marreiros
(A Voz do Vento/ Edições Colibri)

6 comentários:

  1. Gosto. Gosto do que aqui transcreve e gosto das imagens que nos oferece. Respondo com o seguinte poema:

    "A confusão a fraude os erros cometidos
    A transparência perdida — o grito
    Que não conseguiu atravessar o opaco
    O limiar e o linear perdidos

    Deverá tudo passar a ser passado
    Como projecto falhado e abandonado
    Como papel que se atira ao cesto
    Como abismo fracasso não esperança
    Ou poderemos enfrentar e superar
    Recomeçar a partir da página em branco
    Como escrita de poema obstinado?"

    Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

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  2. Em pouco se diz tanto.

    As coisas que a mãe vai descobrindo e mostrando à gente.
    Obrigada!

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  3. Olá Fátima!
    Obrigada pelo poema e pela reflexão. Eu penso que devemos sempre recomeçar. Embora no auge da dor, o impulso seja de apagar o passado, amarrotar a folha e deitar para o lixo, com mais calma, percebe-se que nada voltará a ser igual, algo se alterou e a nova escrita não pode ser numa folha em branco. Nela devem constar os registos que ficaram, sendo importante que obstinadamente se continue a escrever o poema.
    Um beijinho

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  4. A “meus instantes e momentos” , agradeço a visita e o comentário que deixou.
    Volte sempre

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  5. Sabes filha, descobri por acaso este livro no meio de muitos outros, de poesia, nos saldos duma feira do livro. Segundo consta de nota biográfica, trata-se dum autodidacta, algarvio, barbeiro de profissão, dedicando-se também à pintura e à fotografia. Tem poemas maravilhosos, duma sensibilidade e profundidade extraordinárias! Difícil foi a escolha dos que havia de publicar.
    Um beijinho muito terno

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