(São dois registos afastados no tempo. O primeiro reflete um olhar de juventude, o outro regista um momento de desânimo.
Contudo, os projectos não morreram... sucedem-se
MENDIGO
Pobre e solitário mendigo!
Pele suja coberta de farrapos andrajosos.
Não tens projectos, mendigo,
E a tua meta, é uma vala aberta,
À sombra inútil dum cipreste.
Os homens, na igreja, chamam-te irmão,
Mas fecham-te a porta e recusam-te o pão.
Por te verem remexer nas suas lixeiras,
desprezam-te.
(Indiferentes, remexem o lixo, pela tua mão).
Mas ficam em paz...
Chamam-te irmão e deixam-te escrever
O teu nome com LETRA GRANDE.
19/06/65
Hoje, irmano-me a ti, mendigo!
Arrasto esta alma gasta,
coberta de farrapos andrajosos.
Não tenho projectos.
E a minha meta,
é uma cova aberta,
à sombra inútil dum cipreste.
Parados no tempo. O que faz a diferença?
O teu desinteresse era precoce, parecendo opção.
Enquanto o meu, o tempo moldou. É pura erosão.
2001
Jesus Varela